domingo, 24 de outubro de 2010

Não é mais assim! =D


Hoje vim pra casa dos meus pais em São Paulo, todos os finais de semana venho para cá, mas não saio por aqui, venho no sábado a noite, se saio pra algum local pra me divertir com os meus amigos da faculdade (que é no ABC Paulista), vou somente no caminho do ônibus e dele para os points de São Paulo que curtimos tanto, mas no bairro em si não ando.

Daí hoje pela manhã minha mãe saiu logo cedo para comprar frutas na feira perto de casa, condimentos, pão e pastel pro café da manhã de domingo. Quando ela chegou em casa percebeu que tinha esquecido a sacola com pães, uma caneca e alho na barraca de bananas, daí eu como bom filho decidi poder ir comprar esses itens no lugar dela, pra poupá-la da caminhada.

Eu tinha acabado de acordar, me troquei, escovei os dentes, coloquei uma aparência minimamente apresentável e sai com a lista e o dinheiro. Subindo a minha rua num domingo calmo, onde os vizinhos socializam, vendo as pessoas com que brincava na infância ou a residência das pessoas que implicavam com minha galera quando era criança, pude perceber o quanto fico feliz por ter saído desse bairro. Não somente por morar hoje num bairro melhor (na prática fico triste pelos meus pais morarem aqui ainda, mas sei que se morassem onde moro não seriam felizes, já que não existe contato entre vizinhos no bairro que moro atualmente, trato que eles adoram), mas principalmente pelas lembranças que esse bairro me trás.

Foi nele que nasci e cresci, descobri os primeiros traços da "vida adulta" como as saídas a noite, o álcool, as ficadas com as garotas e as sacanagens entre rapazes. Foi nele que descobri também formas de se ganhar dinheiro e meu primeiro emprego numa empresa dita grande.

Nunca sofri discriminações aqui, a não ser aquelas zueiras básicas que são feitas entre moleques em função de um que sempre é pego pra Cristo, e como eu era o gordinho da turma, enfim, em alguns pontos eu era o foco das piadas. Mas isso não era um fator que me prejudicaria significativamente no trato social.
Mas vejo nesse bairro que passei minhas maiores vergonhas interiorizadas, duvidas, asco por mim mesmo, desejo de sumir. E tudo isso em virtude da minha sexualidade., mesmo ninguém desconfiando da minha bissexualidade, a temática desse desejo me incomodava e muito. Não enxergava isso como algo natural, visto que só conhecia (e de vista) a parcela gay que mora aqui no que diz respeito dos travestis que iam pegar ônibus no horário em que ia pra aula no ensino médio pra poder ir nos pontos onde se prostituíam, ou nas transex que moravam juntas numa casa e sempre tinham que conviver com as piadas de alguns garotos todas as vezes que saiam nas ruas. Eu não as zuava, tinha medo delas, via aquelas pessoas como quase monstruosidades, queria simplesmente ter distância delas. Acho que por causa das semelhanças que tínhamos, e que na época era impensável que eu poderia ter semelhanças com tal tipo de gente. Pensamento que hoje mudou totalmente.

Passei na frente da casa de uma das minhas melhores amigas no colégio, amiga que pedi pra ser minha primeira ficante, ela simplesmente fez que não entendeu. Claro que faria isso, ela já tinha relações sexuais com diversos rapazes com 14 anos e eu com 13 não tinha dado o primeiro beijo, pra ela era uma condição brochante. Mulheres procuram homens mais velhos, vividos experientes para não se frustrarem, diferente de homens que em suma procuram pessoas mais novas, até pela questão do domínio da situação. Lógico que existem exceções a regra, mas a grande parcela pensa dessa forma.

Para chegar a padaria tinha que passar pela feira e nesse caminho vi diversos tipos de pessoas, algumas conhecidas, outras não, mas o que mais vi foram familias indo juntas fazer compras, dentre as presentes vi as que passavam com seus filhos pequenos, algumas conhecidas, assim como meus pais faziam comigo, sempre pensei que teria o maior prazer em poder fazer a mesma coisa aos domingos com meus filhos, mesmo não sendo fã de ir fazer comprar em feiras livres. Mas percebi que não seria naquela feira, onde os rostos não mudam, não seria naquele local que me trás lembranças, não lembranças ruins, mas lembranças de como minha mente se comportava naquela época e como eu tinha dificuldade de processar pensamentos/desejos/curiosidades que hoje ou estão muito bem compreendidos, ou seguem num rumo interessantíssimo para poder ser assimilados, o rumo da auto aceitação com amor próprio.

Sei lá, vi esse pensamento como algo interessante para ser postado, vejo que um montante de pessoas que possam se identificar com isso. Afinal quantas pessoas literalmente fogem de onde moram para poder procurar uma vida melhor. Eu particularmente desejo a todos que não estejam satisfeitos que façam a mesma coisa, ir pra outro local, com ritmo diferente, pessoas diferentes, interesses diferentes permite que moldemos uma nova imagem, e isso pelo menos pra mim foi espetacular. Sei que em alguns casos dinheiro pode ser um problema, ou status social, mas independência e paz de espírito por não ter que ficar escondendo coisas das pessoas que você ama de forma tão em baixo do nariz compensam outros diversos tipos de dificuldades que venham a ocorrer. Sem falar que com o tempo verão que esses "segredos" não são necessariamente ruins e aprenderá a interpretá-los de uma forma que até favorecerá com que você permita que as pessoas que você ama tenham o direito de te conhecer melhor. Independente de como elas venham a se portar inicialmente. Pelo menos eu estou nesse processo.

Pense nisso.

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